Para onde me levas com tuas asas abertas? Em tuas cores me perco em memórias, o teu azul celeste, que banha o teu voo, me leva para imagem de águas e me pões a questão: o céu é espelho do mar? Não sei se isso importa muito, mas me inquieta. As tuas cores me emanam a vibração do teu canto de beleza . O vermelho que carregas é o preço de uma voz que cala-se com sangue. Nós dois somos assim, sabemos que o preço daquilo que nos torna singular , é o perfazer constante de morte e vida. Nunca escutei o teu canto, assim como o meu, sempre foi inaudível. A nossa voz está condenada a beleza da morte. Com os renascimentos que morrer implica, somos símbolos, de uma resistência, de um Sísifo condenado a extenuante tarefa de percorrer o topo e retornar a base, estamos na espiral de um tempo que a existência é o preço de não existir. As chamas do amarelo lhe cobrem, está condenadas ao ciclo do sol, poesias de um ocaso, poesias de iluminar vidas e sentirem a falta quando o seu brilho torna se opaco e reacende a esperança do retorno, onde estão as cinzas quando o sol termina de queimar? Amarelo queimante, amarelo da abundancia, amarelo de um Sol que te atrai em direção a combustão gestada em teu ser, enquanto, tu serás lembrada, mesmo quando minha humanidade sucumbir sob a égide do ciclo de vida-morte-vida, estou condenado a lembrar que sou esquecimento, que todos os dias a minha finda existência é selada com um beijo de Morfeus, existência recomeçada pela sedução de Eos para a escrita de mais um dia! será por isso, que o áureo também ocupa tuas plumagens feitas para a minha contemplação? Teu criador pensou nisso? Teu criador lhe soprou com as minhas tintas, afinal, disse-me que você era a minha semelhança existência . Teu deus-vida de olhos astutos, de silêncio perscrutador, de longas mãos, pincelou a sua criação, confluindo-a , a imagem e semelhança de minhas mortes diárias. Com sua voz trovoada lhe trouxe para mim em um pós doze de setembro, mas antes, anunciou que tu estavas renascendo, como de fato és a tua predestinação. O teu renascimento teve um preço, tu sabes que o dono de tuas cores ofertadas para mim, te fez com um grande amor fraterno, para lhe dar vida, para lhe criar, ele exerceu um ato de doação, pois, a alma de artista dele era plena, mas seus bolsos não acompanhava a sua plenitude , o que lhe torna concebida como o ato de amor. Quando chegastes, a memória não me traz a precisão do dia, somente sei que meus olhos lhe percorreram em todos os teus detalhes, e hoje cada vez que te olho, não lhe obtenho, tua força imperiosa me confunde, e vivo a crença de estar em ti. As minhas retinas não lhe prendem, por isso, as convidas sempre para a tua contemplação. O meu coração lhe percorre e tomba em seus relevos. Desde que ganhastes o teu espaço, primeiramente em meu quarto para tornar-te cúmplice de meus desdobramentos mais recônditos, quantas vezes fora testemunhas de ma petite morte. Olha sua simbologia aqui, naquilo que nos torna tão humanos o ato de gozar, conexão de criaturas com uma força que nos põe frente ao nosso puro ato de desvario do desejo que nasce e se encerra , e recomeça, ato de tanta vida e morte. Tu me acompanhaste, no brotar da alegria, do desfazimento dela em lágrimas, em meus recomeços e tropeços. Testemunhaste o nascimento do meu maior amor, ouviste o meu coração vibrar, os nossos sonhos serem tecidos nas madrugadas, conheceste nossos poetas nas nossas juras de amor. Estava lá, em nossas canções, também foste admirada por ele. Nunca perguntei a ele, quais viagens tu os fazia embarcar? Lembras do quarto cheio de jovens que olharam para ti?Por onde os levavas? Aquele ciclo um dia encerrou, então, tu foste guardado, com o carinho que sempre me ligou a ti e viajaste conosco, chegamos a metrópole, tu continuaste nesta jornada, de um lugar ao outro foste conosco, em tua penúltima morada, não ficaste em minha alcova, foste para um local de trabalho, que permitia me dividir meu olhar e o dele também contigo cada vez que sentávamos para fazer algo nesta tela que me permite escrever a nossa história.Ali os anos se passaram até chegar o dia da combustão do amor, e restar as lagrimas. Então, olhava para tu e mesclava a tua figura com a minha dilaceração, em ti encontrava a tua força que achava ser a minha. Pensava em tu história e meu grito sufocado me arrastava a tantas mortes existências que versaram a minha vida até aquele momento. Quando, eu sentia as minhas dores chamuscarem a minha pele, voltava para sua imagem e bebia de tua capacidade. Olhava para o teu vermelho, que te tornas tão vibrantes e a paixão pela vida me renascia. Quando olho para tua plumagem que se estende como quatro tentáculos vermelhos, com pontas de flores negras, sei estas hastes contrastam com a aparente leveza de teu corpo. Na dedicatória que tens oculta, estas destinadas a ser meu amuleto da sorte, ocupas o lugar da imortalidade de minha felicidade. Imortalidade trazida dentro de minha mortalidade, tu és isso, o pequeno espaço que ocupas em minha parede, a sim, já ia me esquecendo, renasci, e outros ciclos iniciaram, nesse ciclo de 2021, mudamos, e você voltou a ocupar o meu quarto, estás acima de minha cama, eu deito e olho para ti, acordo e olho para ti, reafirma-te diariamente como meu amuleto, bem como desejavas teu criador amigo, a minha memória não lembrava o dia que te peguei com todo o encanto, mas agora que resolvi olhar-te uma vez mais, encontrei a data de sua chegada um vinte e um de setembro, em minhas mãos senti-te de todas formas, sinto que irradias o teu triunfo e me seguirás até findar o meu canto que somente os sensíveis são capazes de ouvir, assim como ouvirei o teu no instante final de meu adeus.
Exercício proposto pela Profa. Moema, em que deveríamos escrever sobre algum objeto presente em nosso lar.
Estou há 45 anos montando e desmontando definições, há treze anos na cidade mais frenética, e a cada dia entendendo que sou apenas um velho menino do interior, mas continuo virginiano , solitário, porém, cheio de amantes: literatura, filmes e séries.
Que coisa linda Marcos! Parabéns adorei.