“Palavras Póstumas”, de Diana Pilatti: poesia à flor da pele

Ouvi falar de Diana Pilatti antes de ler seus poemas. Disseram-me sobre sua poesia, sobre sua temática forte e palavras envolventes. Mesmo assim, demorei um tempo a conhecer sua poesia, em razão da minha lista de espera de livros a serem lidos em 2021 (e de 2020, ainda, mas o que é uma lista longa de livros a serem lidos durante uma pandemia, não é mesmo?). Até que tive a oportunidade quando fui presenteada com uma de suas obras, “Palavras Póstumas”, e deixei, afinal, a ordem da lista para lá.

Eis uma resenha de uma leitura fura-fila, que valeu cada momento. 

ecos

por um segundo

uma lágrima

é eternidade

(Diana Pilatti)

Por meio de sua poesia, Diana Pilatti transporta o leitor, com primazia e delicadeza, ao corpo e à alma triste de uma mulher vítima de violência, em seu livro de bolso “Palavras Póstumas”, volume 5 da II coleção de livros de bolso do Mulherio das Letras (Editora Venas Abiertas, 2020, 114 páginas). 

Uma obra que pode ser lida de uma vez só ou a conta-gotas, aos mais sensíveis, refletindo cada poema e suas nuances tão reais e profundas. 

São poemas pelo eu lírico de uma mulher que sofre, mas também tem dentro dela poesia e vida, apesar de enclausurada, e acompanhamos seu arco narrativo poético com reflexão, dor e compreensão. São tratados temas desde violência psicológica e física, medo e solidão, até chegar ao feminicídio. Os poemas também funcionam muito bem sozinhos, derramando nas páginas, com sutileza, assuntos difíceis de serem encarados. 

da entrelinha

a palavra escapa

lágrima velada

da fenda do espelho

um velho monstro me encara

(Diana Pilatti)

Capa do livro “Palavras Póstumas”, de Diana Pilatti.

A poeta usa sabiamente de jogo de palavras e metáforas, como nos versos: 

[…] lavo a louça

e meu silêncio arranha as paredes da

cozinha

socorro

inaudível 

outro sonho

translúcido 

pelo ralo

(Diana Pilatti)

Ao falar de assuntos divergentes na sociedade, Diana consegue nos passar toda dificuldade e dilemas envolvidos na vida desse eu lírico, o qual representa tantas mulheres.

a vida escorre

na contração do tempo

visgo e estrogênio

no azulejo frio

a dor-alívio

uma filha poupada

fêmea-sina

“um aroma um endométrio que

abraça (…) uma paz quase terrível”

Nina  Rizzi

(Diana Pilatti)

Ilustração de Eliane Fraulob.

O livro  também dialoga com outras vozes femininas, por meio de epígrafes e citações, como acima, o que dá novas perspectivas e proporção ao texto de Diana.

Vejo esta obra como um pulso forte da literatura de autoria feminina em Mato Grosso do Sul. Sua poesia trata de temas que precisam ser debatidos, os quais necessitam de vozes poéticas que transmutem essas dores, uma força do papel para a vidaConscientização, laços, amparo. Pelas palavras, a poesia é transformadora.

o medo congela os ossos

no quarto rarefeito

reverbera sua voz fálica

arranco força do ventre

útero trompas ovários

a força de todas as mulheres

minhas predecessoras

Não!

silêncio mordaz

(Diana Pilatti)

Você pode acompanhar mais da poesia de Diana Pilatti no Instagram dela e no site www.dianapilatti.com


Palavras Póstumas

Editora Venas Abiertas

Coleção II Mulherio das Letras

Ilustração: Eliane Fraulob

Ano: 2020

Páginas: 114

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