Todos os dias, eu acordava mais cansada do que quando havia me deitado. Permanecia o dia inteiro de pijama no meu quarto, sem querer me erguer da cama. Um dia, o marasmo estava prestes a me engolir por completo. Decidi, então, romper com essa rotina letárgica.
Numa manhã, levantei-me junto às galinhas, me troquei e fui dar uma volta. Não sabia exatamente para onde ir, mas subi um morro tão íngreme que acabei exausta. Ao avistar um ponto de ônibus, onde repousava um banco de madeira, decidi me sentar e descansar.
Ali, sem rumo, observei o incansável trabalho das formigas. Marchavam enfileiradas, carregando folhas. Por horas fiquei assistindo o ritual daqueles insetos. Nos dias seguintes, fiz a mesma coisa e percebi que aquela era a rotina das formigas.
Em uma dessas ocasiões, um rapaz atraente sentou-se no banco ao meu lado, mas logo sinalizou para um ônibus que se aproximava. Ele subiu e partiu. Em seguida, segui meu caminho de volta para casa. Retornei ao ponto nos dias subsequentes, encontrava o rapaz lá, no mesmo banco, no mesmo horário, aguardando o mesmo ônibus. Como de costume repetia esse rito, até que me cansei e deixei de frequentar o ponto.
Minha mãe, uma boleira experiente, havia recebido diversas encomendas para casamentos em maio e pediu minha ajuda na preparação das massas. Diariamente, eu quebrava os ovos, media a farinha, adicionava a quantidade exata de manteiga e leite, e misturava os ingredientes na batedeira. O restante era providenciado por ela. Embora adorasse bolos, a tarefa passou a me desgastar. Notei que, mesmo tentando mudar o ritmo ou o percurso, tudo no mundo era permeado por uma rotina muitas vezes maçante.
Ao tentar alterar uma coisa ou outra, refleti que não conseguiria me livrar do tédio que me cercava, pois ele é a consequência inevitável da rotina. Poderia escapar por um breve período, mas, a monotonia me alcançaria, transformando-se no tédio que, por sua vez, me impulsionaria a começar algo novo. No entanto, esse “novo” logo se tornaria o próximo ciclo monótono, causando um loop infinito.
Veja bem, caro leitor, o tédio se infiltrou até mesmo em meu texto! Por mais que eu relate diversos causos, resultará em tédio. Biquíni Cavadão já dizia em uma de suas músicas: “Eu já tentei de tudo, mas não tenho remédio para livrar-me desse tédio”.
Será que estavam entediados quando a escreveram? Só sei que a letra descreve perfeitamente esse fantasma que nos assombra quando menos esperamos. Bem, encerro por aqui, ciente de que, provavelmente, já causei certo tédio em você!