Maria

O pôr do sol revelava a sua chegada. Abriu a porta firmemente. Era uma mulher obstinada não tinha chegado nesse momento com facilidade. Pensou na filha, e sentiu mais confiança para dar os passos e posicionar se frente a banca. Ergueu os olhos, percorreu a banca composta por três assumidades. A do meio deu-lhe mais confiança. Era um momento daqueles em que se compreende a vitória como certa. 

__ Saudações a todos! – disse sem vacilar. Não temia! Fora professora em uma instituição por muitos anos, a literatura foi sempre seu conforto, deu lhe um olhar sobre o humano. Conseguia compreender a sua jornada, a cada descoberta que a palavra lhe trouxera.

Seus olhos castanhos liam o mundo das pessoas, como lia o homem da esquerda, enquanto ela pronunciava as primeiras considerações sobre Lispector e o feminino. Ela sabia o peso de cada palavra escolhida para ser usada em sua dissertação, foram nascidas para derrubar uma opressão masculina secular. Suas escolhas foram fortalecidas desde o momento em que seus braços entrelaçaram o corpo de Marina.

Marina! Quando olhava as suas peles reluzirem sobre o sol, não precisavam lhe dizer nada sobre ancestralidade, reconhecia a força de Iemanjá. Ali acontecia o encontro de duas guerreiras. Antes dela estrear em sua vida como raios ocupantes do tempo e do espaço, foram noites de choro, de trabalho intenso, e a pequena Lua, sempre esperando nas noites vazias a mãe que não chegava.

O pensamento em Lua atravessou lhe com uma pontada profunda. Respirou e continuou a explanação, estava certa, iria ocupar a cadeira de Literatura Brasileira, em uma das maiores Universidades do país!

Apresentou sua trajetória acadêmica. E finalmente, o seu triunfo seria mostrado, entregou o plano de curso sobre a literatura feminina de mulheres negras. Como ela tinha certeza, a assumidade feminina do centro esboçou um sorriso quase imperceptível. O sorriso oculto a levou em uma fração de segundo ao dia que Marina disse-lhe:

— Você precisa escreviver… Olhou a indagando? Sua testa franziu abaixo da cabeleireira vermelha… Marina gentilmente, tomou-lhe as mãos…E a conduziu lentamente até o quarto, onde em sono profundo Lua iluminava outros mundos. Sim, Maria, geste a nossa história. O seu primeiro passo será ocupar a cadeira, primeiro com as mulheres que lá não estiveram, elas serão lidas… depois a nossa vida será lida…

Marina dava-lhe o prazer do gozo da vida, parecia esculpir um mundo tão próximo e antes despercebido por ela. Com o sopro do amor em sua vida, o mundo que acontecia apenas em seu interior foi ganhando espaço, o seu medo diante das dores cotidianas fora substituído por uma segurança que percorria seu interior timidamente, esperando o dia da estreia.

Voltou ao presente! Após a sabatina, o resultado confirmado. Era a mais nova professora da maior Universidade do país! Por um momento, desejou chorar. Agora não! Banharia seus olhos de alegria, assim, que o cavalo motorizado a levasse ao encontro e aos braços das mulheres que modificavam a sua história diariamente.

escrita praticada paralelamente ao curso , em aula com prof. Lucas Lyra/UNB

About Marcos C.

Estou há 45 anos montando e desmontando definições, há treze anos na cidade mais frenética, e a cada dia entendendo que sou apenas um velho menino do interior, mas continuo virginiano , solitário, porém, cheio de amantes: literatura, filmes e séries.

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