“Escrever é…”, de Helena Miranda

O que significa escrever hoje em dia? Qual o lugar da escrita? A escrita é transgressora, derruba muros e subverte, traz ao centro do tabuleiro as questões que se julgam melhor passarem despercebidas. Escrever é jogar luz sobre aspectos sombrios do ser humano, suas perversidades e depravações, assim como o lado também mais poético e mais sublime, já que somos duais, ambíguos, somos naturalmente avessos a maniqueísmos. Por isso, a escrita comove, toca fundo em feridas, ao mesmo que humaniza e trabalha a empatia. Com ela, aprendemos a nos colocar no papel do outro, o que faz todo sentido, pois, ao escrever, damos vazão ao que nos vai a fundo e, com isso, recuperamos a humanidade que perdemos todos os dias em filas, ônibus lotados, salários baixos, cafés gelados e transbordando de açúcar, preços no supermercado, diante de chefes tolhedores e vivendo relações tóxicas. Todos os dias, morremos aos poucos, e a escrita redime, porque, ao nos esvairmos assim, recorremos ao que nos faz viver, ressuscitar e morrer. Cada texto que escrevo leva um pedaço de mim, que passo por todo esse ciclo de morte e vida toda vez que resolvo fazer valer minha alma transbordante nas páginas do computador.

A partir de quando posso ser considerada escritora? Eu preciso mesmo do aval de um livro publicado, de uma declaração dada por um crítico na imprensa? Sou escritora desde tempos remotos da minha existência. Sempre gostei de empenhar na escrita o que me fugia na verbalização oral, por medo, timidez, preocupação com o que iriam pensar. A palavra escrita conta com o tempo a seu favor, a reflexão, a sensibilidade de usar um vocábulo ao invés de outro, a oportunidade de brincar com os sentidos. Por isso, sempre a preferi em detrimento à fala. Sou escritora porque minha pasta particular no meu computador está ficando repleta de crônicas escritas a partir das minhas vivências. Não pelo número de crônicas escritas, nem por seu conteúdo, mas sim porque preciso da escrita para curar, para entender, para compartilhar. A necessidade da escrita é premente para mim, desafoga o peito, clarifica a mente e aquece o coração. Já a necessidade de compartilhar os escritos foi surgindo devagar, insidiosamente, preenchendo os cantinhos até chegar à borda. Sou escritora por compartilhar minhas palavras? Sou escritora por passá-las da alma para o papel, buscando o tom adequado, à luta pela palavra certeira. Sou escritora porque pulso, porque vibro, porque existo, enfim.

*Texto elaborado a partir da atividade de Seminários.

*Imagem de jcomp no Freepik

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