Ela só queria dormir. Quando se mais quer, menos se consegue. O danado do sono simplesmente não vem.
Já estava há horas tentando achar uma posição que ficasse minimamente confortável. Lá fora os pássaros haviam começado a cantar e feixes de luzes começavam a entrar pelas frestas da janela. Em poucas horas, teria de se levantar para o dia mais esperado dos últimos meses. Então era isso, não iria dormir. Já não havia dormido bem nos últimos dias e pelas perspectivas, não faria por um longo tempo.
Dormir, nunca tinha dado tanto valor para isso.
Conferiu mais uma vez se estava tudo pronto. Esperou os acompanhantes tomarem o café da manhã. Ela não podia, precisava ficar em jejum até sabe se lá que horas, o que foi uma verdadeira tortura. Por que tudo precisava ser tão difícil?
Chegou no hospital e mandou uma mensagem para médica. A meliante teve a cara de pau de perguntar se ela havia descansado. Ela respondeu com um curto não. Não era óbvio?
Em uma sala pequena e fria, enquanto esperava, presenciou uma mulher na mesma situação, só que sentindo muitas dores. A cena era, sem dúvida, traumatizante. Em um espaçamento de tempo, a pobre se contorcia e gemia, enquanto os dedos apertavam com força o apoio do soro. Se não havia dormido, aquela mulher muito menos. Percebeu que nem tudo estava tão difícil.
Em pouco tempo foi chamada. Já havia transpassado o pano azul, colocado toucas descartáveis na cabeça e nos pés. O restante aconteceu muito rápido.
Finalmente ela iria dormir? Estava anestesiada e sonolenta, fazia sentido poder descansar finalmente. Mas era impossível. Agora havia uma outra pessoinha ao seu lado, e essa, embora dormisse, precisava da atenção dela a todo momento. Ela não podia descuidar e assim ficou pelo resto do dia.
A noite chegou, talvez ela conseguisse pregar o olho enquanto aquela pessoinha era vigiada pelo acompanhante, mas, para seu horror, ela ouvia gritos e gemidos tenebrosos que duraram toda madrugada.
Então, outro dia veio, ela deu uma cochilada ou outra. Voltou para casa e agora, mesmo que quisesse, aquela pessoinha exigia atenção, não a deixou dormir de propósito e provavelmente não deixaria por um bom tempo.
Então, descobriu o que era ser mãe. Nunca mais pregaria o olho.
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