Como autora independente, acredito que o mercado editorial para publicações literárias no país ainda se encontra restrito a determinados nichos sociais e temáticos. Hoje, nós temos que nos dividir como autor, editor, revisor e divulgador de nossos trabalhos. Com o advento de plataformas como o KDP da Amazon, temos hoje um mercado mais acessível e democrático para fazer com que nossas obras cheguem ao público, no entanto, ainda é um mercado um tanto fechado para os que chegam agora.
Há uma crescente de uma literatura que nos anos de 1990 era a famosa literatura de banca, com a qual autores de outros segmentos como terror ou ficção científica não consegue competir nas plataformas de auto publicação. Percebo que foi criado no país uma massa de leitores que buscam a leitura fácil, o clichê romântico. Autores que seguem por esse caminho até conseguem certo destaque nas plataformas digitais, mas ainda assim não é um caminho apenas de “finais felizes” há que se trabalhar arduamente depois do “e viveram felizes para sempre” para ter sua obra alcançada pelo maior número de pessoas no Brasil.
Acredito que a dificuldade de se viver somente da arte não se restringe apenas à escrita, vivemos em um país onde se investe pouco em educação e cultura. A literatura de rua, novos autores mal atravessam os portões das escolas. Não há incentivo financeiro ou artístico aos que produzem literatura no país, parte porque acredito que ainda vivemos sob os louros dos grandiosos clássicos nacionais. Autores que abriram as portas da mente e da criatividade para que pudéssemos escrever hoje, mas é preciso que as pessoas que conhecem e amam os Assis, Guimarães, tenham a chance de amar e conhecer os filhos que esses deixaram. Há grandes obras nacionais que mal conhecemos porque não tiveram a chance de chegar ao mercado, por falta de oportunidade ou investimento.
A saga do autor que se aventura pelas publicações independentes não termina depois do “fim” digitado. É preciso ir atrás do seu nicho de leitores, planejar seu orçamento para divulgações, criar seu material de divulgação e ter que se esquivar dos exploradores que aparecem. É estranho como a democratização de um espaço por muitas vezes pode se tornar uma gaiola invisível. O autor se tornou sua própria editora e empresa de marketing, em que se gasta mais tempo com o trabalho de divulgar e ir atrás de leitor do que escrevendo. E mesmo sendo um trabalho de cem mãos, ainda continua sendo solitário.