Eu caminho pelo meu quarto e paro bem no centro. Apesar de sempre me distrair com algo quando estou nele, desta vez não demoro muito tempo para começar a pensar sobre como todas as coisas que estão à minha volta são belas, interessantes e coloridas. Mas, além de tudo, eu também olho ao meu redor e reflito sobre como cada uma dessas coisas tem sua própria história e como, ao mesmo tempo, cada objeto faz parte da minha.
Olho para as minhas estantes cheias de livros que colecionei ao longo dos anos e penso sobre como elas são bonitas ali. As cores que compõem cada livro deixado nela formam um lindo arco-íris, mas, além disso, todos eles são uma pequena parte de mim, já que todos esses livros me informaram e me formaram. Desde as obras mais famosas da Agatha Christie até os livros de teorias do jornalismo; desde os romances da Carina Rissi aos livros de Machado de Assis, me lembro dos que comprei e dos que ganhei, mas também me recordo de ter apreciado cada um deles.
Também olho para o cabideiro colocado na minha parede há poucos meses. Ele está repleto de vestidos que usei em várias ocasiões. Um vestido rosa, que comprei para usar no casamento do meu irmão mais velho há vários anos, os vestidos floridos que gosto de usar nos finais de semana e, até mesmo, uniformes que eu costumava usar quando fazia trabalho voluntário em uma igreja aqui perto. Cada roupa me traz lembranças de momentos felizes e especiais, então respiro fundo antes de continuar com os meus devaneios.
Ao lado do cabideiro, está a minha escrivaninha, repleta de cadernos que utilizei para estudar redação, inglês, francês e russo. Ela também está cheia de canetas coloridas que eu costumava usar durante a minha graduação, já que, por conta da minha dificuldade de me concentrar nas leituras e nas minhas próprias anotações, eu utilizava cada uma delas muitas vezes.
Ao olhar para todos os objetos mais uma vez, tenho um novo olhar e então caio na real. A partir de um simples gesto de observação, agora percebo que o tempo passa rapidamente e que não há nada que eu possa fazer para impedir isso. Mesmo sem querer, agora eu compreendo que, por mais que eu esteja aqui neste momento, haverá um tempo em que eu não estarei mais neste lugar. Sinto um peso no coração e um pequeno arrepio ao perceber que cada um desses objetos que agora estão na minha frente permanecerá aqui para guardar, detalhadamente e sutilmente, muitas das histórias que vivem apenas na minha memória. Segredos.
Gabiii, amei essa parte: “compreendo que, por mais que eu esteja aqui neste momento, haverá um tempo em que eu não estarei mais neste lugar.” Sempre fico pensando sobre esses momentos que passam e os mistérios que se esvaem nos acontecimentos.