De vez em quando não caibo em mim
transbordo minha essência
transfaço-me
Agora, por exemplo, estou tão cansada, trabalhei tanto
que meu desejo é voar
ir lá bem longe, até meu ninho seguro
no alto daquela árvore
E então abro os olhos…
E sou tudo
E mais
Todo aquele verde
todo aquele azul
Meus dedos são longos, garras
meu bico é preto
minha cauda, comprida
minha plumagem surge
colorida, azul, amarela
Quem lá embaixo me vê
nuançada
ponto de vista livre
sorri
Eu salto a voar…
O vento me recebe
abraçando-me como irmão
E então abro os olhos…
O sinal do semáforo é que fica verde
e aqui eu sigo
embaixo
à espera do próximo salto
*Poema selecionado e publicado na antologia “Sementes de Clarice”, da editora Ascensão (Rio de Janeiro).

Uma revisora de textos que escreve e ama ler.