Em mais uma de minhas viagens solo, pus-me a andar sobre aquelas ruas estreitas. Eu havia decidido explorar todos os cantos daquela cidadezinha e conhecer suas peculiaridades, mas surpreendera-me especialmente por uma.
Moedas de todos valores desenhavam o interior da fonte. Cada desejo enriquecia e esperançava os corações apaixonados. As pedras cintilantes contornavam os degraus acinzentados que davam acesso àquelas águas de profundas contradições. Ruído com o tempo, o topo do chafariz guardava marcas da idade e segredos dos mais íntimos.
Estanquei ao observar um casal de idosos sentados em um banco ao meu lado. Ouvi uma voz balbuciar e comecei a prestar atenção na conversa. Embargados pelo choro, a voz trêmula agradecia pelo “para sempre” que tiveram a oportunidade de viver. À medida que interpretava suas palavras, sentia um nó na garganta. Havia um tom de despedida. Por um momento, me culpei por ter começado a prestar atenção naquilo.
A mulher tinha um turbante na cabeça como se desejasse esconder a ausência de fios. As lágrimas do senhor escorriam, enquanto ele arremessava uma joia água abaixo.
Do outro lado, havia um casal de jovens que mal se olhava. A proximidade física destoava com a distância que se estabelecera entre eles. As mãos da jovem dedilhavam a tela do celular enquanto o rapaz, com sua voz embargada, sussurrava umas palavras.
— Nos conhecemos e nos apaixonamos aqui. Não é justo pôr um fim no que construímos.
A menina parou de digitar, respirou fundo e concentrou o olhar a sua frente, evitando o rapaz que a acompanhava: — A culpa foi sua. Seus erros fizeram eu me afastar de você.
— Eu errei, mas peço perdão. Eu te amo mais que tudo. Não faz isso com a gente. E nosso “para sempre”? A gente prometeu que ia viver a eternidade juntos, amor!
— Cansei de te perdoar. Você não vai mudar. Em um relacionamento os dois precisam se dedicar e você nunca esteve por completo. De qualquer forma, o “para sempre” nem existe.
A menina pegou uma moeda e jogou-a do lado de fora do poço, como se desejasse romper um pacto estabelecido anteriormente. Aquela moeda, que parecia cair em câmera lenta, tocou o chão e seu tilintar ecoou pelo local quase-vazio. A jovem saiu sem hesitar.
Desconectei-me daqueles sentimentos e pensamentos joviais desordeiros e atravessei meu olhar para o outro lado. O casal de idosos continuava lá, abraçados e agradecidos pela eternidade que viveram juntos.
— Nosso “para sempre” existiu e sou grata por isso. Só que agora ele está perto do fim.
— Amamo-nos e respeitamo-nos, sobretudo soubemos perdoar. Esse não é o fim. Encontrar-te-ei em breve.
Fui embora pálida pensando no contraste que acabara de presenciar. Se o “para sempre” não existe, como pode a eternidade ser tão bem vivida por quem sabe vivê-la? É possível amar e ser amada na intensidade que aqueles dois idosos se permitiram? Ou a realidade de hoje é viver em um relacionamento fadado ao fim?
Não sei… talvez nem fosse do meu interesse saber. Estava bem. Continuaria meu caminho solo. Minha solidão era minha maior companheira e não havia ideia melhor do que a que viveríamos para sempre juntas, de mãos dadas, à espera da próxima aventura.
Emocionante !…
Que texto lindo e profundo. Amei!!