Ela

Ela lambe meus fluidos do corpo, suga com uma violência irracional.

Sai devorando, ávida por mudança,  transforma tudo que a penetra.

Traga, mói, amassa molha bate…

Me apaixonei desde o início, não sei ao certo o ano em que ela me chegou, sei que tomou a predileção de tudo que a antecedera.

Seu sorriso largo, sua boca grande, seu corpo enorme e barulhento, (se bem que a maior parte do tempo ela repousa em silêncio). 

Apenas sendo, apenas existindo sem pensar. 

Ela não pensa, sei que eu respondo pelos seus gatilhos eu quem aciono seus instintos e essência, ela vive para mim, vive por mim e eu a venero, a idolatro, a protejo. 

EU A AMO!

Embora saiba que poderei substituí-la, trocá-la, a qualquer momento, ou ainda permitir que outro a possua.

Ainda que tudo isso aconteça, ela é ela, ela e sua essência eterna permanecerão! 

Existirá mesmo em outros corpos, mesmo para outros corpos … 

Se renovará e sempre estará por aqui! 

Parei para lembrar… 

Eu já a conhecia de ouvir falar, já sabia desde sempre que ela era ela, que existia! 

Que agia, que fazia para os outros, o que faz por mim, que vivia por outros, como vive para mim. 

Desde sempre soube disso, desde que me dei por gente, mas naquela época eu não tinha como, não tinha como tê-la por perto.

Nada me era possível fazer, nem eu nem minha família, nem ninguém da época. 

Naquele tempo, para a nossa condição ela era rara, quase inexistente, uma lenda, quem sabe?!

Ela não tem ambições, mas não se atreveria a dar acesso para quem fosse de nossa rua.

E  ainda puxando pela memória me lembrei que tive uma outra paixão…

Quando ele veio para mim de cara me entreguei, tinha um amor para dar, ele me dava acesso ao inatingível! 

Abria uma, duas, três, várias janelas de possibilidades, me entregava o mundo, e eu, que do mundo nada sabia, me curvei a seus encantos, na verdade me debrucei por horas, dias, noites madrugadas a fio. 

Não sabia mais o que era dormir, vivia para este amor que me sugava para um mundo novo, um mundo que mais me desnutria e arrebentava minhas noites do que me alimentava de algo. 

As janelas me levavam para um abismo, o mundo novo que de novo não tinha nada, era mais a condensação de um buraco negro a me chupar até o nada, de fato esta paixão nada tinha a ver com suas consequencias, eu, eu mesmo em meu momento oco nada teria a aproveitar daquilo tudo, nada teria a somar com aquela paixão que era apenas um reflexo de mim mesmo. 

[E ele teria  tanto para me dar…. Suas janelas… Ah… suas janelas… Suas possibilidades… Eu seria outra pessoa, eu não seria eu! 

Não mesmo, seria muito melhor, uma versão bem aproximada das pessoas que hoje me inspiram! 

Não nego a minha inveja, não posso negá-la! Mas também não me escravizo nisto.

Hoje, o olho grande me impulsiona.

Talvez  esta mola tenha até mudado de nome, permito esta mudança, já autorizo chamá-la de cobiça].

Este hiato que me constrangeu em minha exposição gratuita não é o que importa aqui, voltemos às paixões…

Quando comprei meu primeiro computador não compreendia o que ele e o mundo virtual poderia me dar, me estraguei mergulhei no vício vazio… 

Os primórdios da internet no Brasil eram uma incógnita e eu no auge de minha inutilidade fiz jus ao que estava em mim naquele momento. 

Foi uma danação otária , ainda assim foi incrível, um desperdício incrível, mas necessário, algo que tinha que se cumprir. Uma rasa paixão!

O que foi totalmente diferente do que aconteceu com ela.

Ela é ela, e eu sempre vou lembrar quando ela chegou em casa, quando na solteirice comprei minha primeira MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS e me dei conta de um passado pesado, escravizado, odioso! 

Como era doloroso lavar roupas esfregando à mão ou mesmo com o apoio de um tanquinho elétrico mequetrefe que mais fazia um aguaceiro pelo quintal e me encharcava dos pés à cabeça do que limpava ou torcia as roupas. 

Com ela aquele passado haveria de ser apagado, de uma vez por todas! 

Que ela permaneça! 

Que ela seja eterna! 

Minha máquina de lavar roupas… Um amor para a vida inteira!

5 comments / Add your comment below

  1. O que seria de nossas vidas sem Ela?!

    Demais, Maru! Amei!
    Como sou poliamorista, Ela divide meu coração com Ele, o aspirador de pó! Já me deu vontade de escrever um intertexto hahahhaa

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