as sete preciosas lições que aprendi com a pós até agora…

Fiquei muito tempo estagnada sem escrever e me considero uma baby escritora para ser bem honesta. Nunca publiquei nada e ainda estou construindo as minhas referências e procurando pela minha voz. Durante esses sete meses de pós graduação em Escrita Criativa pela Faculdade Novoeste estou conseguindo, devagarinho, desbloquear e silenciar aquelas vozes da minha mente dizendo-me o quão ruim eu sou. Além de me dar a coragem de recomeçar a escrever, os professores da Novoeste e meus companheiros de encontros tem me mostrado que escrever é exercício, é prática, um músculo que precisa ser estimulado, forçado, posto ao limite para se superar. Aqui vão algumas lições aprendidas até agora:

1 – Você é o que você lê

Todo bom escritor é um bom leitor! Quanto mais referências nós temos dos grandes autores, melhor conseguimos nos expressar usando técnicas, palavras e sentimentos. Afinal, alguém já fez isso antes e cabe a nós nos embebedarmos desse conhecimento. Porém, também aprendi que não adianta ter uma estante cheia de livros não lidos ou apenas ler sem uma completa imersão. É preciso ler como escritor, atentando-se a todos os aspectos da escrita, suas técnicas, uso das palavras e construção das cenas. Por isso, ler com a intenção de realmente ler o que se está escrito é fundamental para tornar-se escritor.

2 – 10% inspiração, 90% trabalho duro

Aprendi que não adianta ter uma boa ideia, mas não conseguir transmiti-la de forma literária para o papel. E para conseguir transmitir emoção e fazer sua ideia virar algo tem muito trabalho por trás. A ideia é o pontapé inicial, é o esqueleto, depois tem suor, sangue e lágrimas (às vezes literalmente). É preciso ter intenção de passar uma mensagem, mas não como um noticiário e sim de forma lúdica e um tanto didática talvez. E isso dá trabalho. Dá trabalho porque envolve pesquisa, leitura, escrever e reescrever dezenas de vezes a mesma frase, o mesmo parágrafo até que fique do jeito que é pra ser. É preciso estruturar do começo ao fim, é preciso encaixar cada pecinha do quebra-cabeça que a gente cria na história, cada emoção, cada personagem, cada cena, tudo deve ser intencional.

3 – Escrever é ato solitário, mas não precisa ser

A gente aprende que ser escritor é ser boêmio, enfurnado na escrivaninha do quarto rodeado por livros e mofo rasgando o peito ao colocar toda a dor no papel. Isso talvez seja verdade caso você seja um escritor do século XIX, mas em pleno século vinte e um isso já não é mais bem assim. A gente escreve sobre pessoas e para as pessoas. Escrever pode ser solitário, mas também pode ser um ato coletivo ao partilhar com colegas de ofício – ou de sala de aula – o que foi criado. Escrever pode gerar discussões, insights, ensino e aprendizagem. Hoje, com as redes sociais e a necessidade de pertencer e ser visto, escrever torna-se muito mais coletivo do que solitário. Bom ou ruim, não importa, é só um fato. Como escritores cabe a nós encontrarmos o melhor equilíbrio.

4 – Sensibilidade é tudo

Desde que mundo é mundo e gente é gente, nós contamos histórias. Ao longo dos milênios nossa habilidade de contá-las foi aprimorada pela língua e pela escrita. Para ser um bom contador de histórias, porém, é preciso ser sensível ao outro, É preciso quebrar barreiras de qualquer fobia existente dentro de nós. É preciso olhar o outro como um ser humano e passar esse olhar aos nossos personagens e suas narrativas. A nossa escrita deve sempre visar o bem da sociedade, do coletivo. Escrever é pensar e agir, agir e refletir livrando-se de preconceitos e ideias errôneas sobre movimentos, culturas e hábitos do outro.

5 – Pesquisa, teoria e prática

A pesquisa profunda sobre determinado assunto reunida com a teoria e técnicas, irão nos ajudar a ter uma prática (a escrita) de forma mais sensível e verossímil. Eu não posso contar a vivência do outro se não dou voz pro outro contar a própria história primeiro. Por isso, pesquisar muito bem e se informar profundamente faz parte de ser escritor para que não acabemos reforçando estigmas e estereótipos que deveríamos na realidade quebrar.

6 – Show, don’t tell

Acho que uma das coisas mais difíceis de escrever é justamente mostrar ao invés de contar! Eu não sei você, mas eu ainda tenho muito mar pra navegar nesse quesito. À medida que construímos nossos personagens e nossas cenas, é muito mais satisfatório mostrar as ações dos personagens do que contar o que ele fez. Precisamos deixar nossos personagens vivenciar a própria história ao invés de apenas contá-la. Ao invés de contar que o personagem tal sentiu medo, é bem melhor descrever o sentimento com as ações feitas por eles. Fulano encolheu-se, arregalou os olhos, correu desesperadamente, sacou a espada da bainha e partiu pra cima do monstro, mijou nas calças… bem, a reação ao medo vai depender muito de quem seu personagem é.

7 – Se joga!

Curta o processo. Ninguém vira Clarice Lispector ou Fernando Pessoa da noite pro dia. Confiar no processo e aprender com ele faz parte de ser escritor. Haverá textos ruins, textos razoáveis e logo mais, textos magníficos, é tudo aprendizado. Nesse oceano de informação e de referências a gente só precisa continuar a nadar. Então, se joga!

8 comments / Add your comment below

  1. Tabita… Que síntese certeira do que tem sido esse percurso, hein?!
    E das 7, quero falar especialmente sobre como a 3 fez/faz toda diferença para mim! Pq se vc é baby escritora, eu sou um pequeno feto revirando num ventre coletivo atrás de sugar todos os nutrientes que posso de vcs e nossos encontros!
    A cada sábado, a cada profe, muitas novas e profundas lições! Mas, a cada sábado e a cada reencontro com tanta gente inspiradora, a reiteração da terceira!

    Parabéns pelo texto <3

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