s ó m a i s u m p o u q u i n h o

Enquanto escrevo ele vem pedindo um pouco de atenção. Depois de correr pela casa toda e de derrubar meu vaso preferido e derramar a xícara de chá na mesa, ele vem. Aí silêncio. Escuto apenas o teclar dos meus dedos no computador. De repente, num susto, dois olhos arredondadamente enormes e verdes me encaram. Está bem a minha frente tampando qualquer visão da tela. Vejo-os quase dentro dos meus. Será que ele me vê? Então um grunhido leve pra chamar a atenção. O observo, estática enquanto ele se agonia até perder o interesse. Um bocejo rápido, um grunhido leve e a espreguiçada… lá vem ele de novo.

Agora, os olhos, tortos que me confundem pra onde realmente olham, piscam vagarosamente querendo  a minha atenção. Okay, é comigo mesmo. Acho que é só manha de inverno de começo de noite, ou do fim dela, já nem sei. Pego-o no colo, sussuro algo no ouvido e o acaricio nas bochechas peludas e macias. Ele olha pra cima e pendendo a cabecinha para o lado por puro prazer… outro grunhido, mas agora mais longo, mais persistente e calmo. Prrr ele diz enquanto continuo a acariciar entre os grandes olhos e as orelhas negras e pontudas acima da cabeça miúda e escura. Ele deita-se no tecladfgvsbdafne… É, não tem jeito, vou ter que ficar aqui um tempo. Eu e esse rosto que vem com um corpinho míudo e quase líquido pisandjfeiwjfi em todas as teclasohwoufq do meu notebook. Agora, bem confortável – ele, eu nem tanto – rendo-me aos seus desejos.

O texto já está fadado e pode esperar. Continuo sentindo seu pelo macio na ponta dos meus dedos. Contorno com o indicador a bochecha direita e preta deslizando meu dedo por entre as cores que formam em seu rosto, do branco pro preto e do preto pro branco até o focinho, gelado e rosado que sacode e desvia quando tento tocá-lo. Contemplo a simetria do rasgo em branco que começa na testa e desce devagarinho por entre os olhos, curva-se perfeitamente por duas linhas que se separam logo abaixo dos olhos e seguem pela bochecha até encontrar com o branco do corpo, mesclando-se.Um pouco irritado ele ameaça sair de perto, já um pouco esgotado com as carícias.

Convenço-o a ficar s ó m a i s u m p o u q u i n h o… Ele fica. Terminando o contorno do rosto quase arredondado, mas visivelmente triangular, acaricio a manchinha preta logo abaixo do queixo branquinho. Ele solta mais um grunhido Prrrrrrr e estica as patinhas tentando me tocar. Quando finalmente me inclino para lhe dar um beijo, ele olha pra mim, tortuoso, levanta-se e sai. A cota de carinho por hora chegou ao fim, mas claro, antes de ir ele precisa pisar no tecldeqfojefnkmcwrknqtytu´ç…

4 comments / Add your comment below

  1. Lendo numa madrugada insone, com uns bigodinhos fazendo cócegas nas minhas bochechas… o braço da mão que digita amorteceu pq o peso do sono profundo se espalhou a partir do meu ombro! As patinhas no meu pescoço e a respiração profunda no meu cangote me fazem querer que o s ó m a i s u m p o u q u i n h o dure a noite toda!

    =^.^= prrr

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